O Museu Jorge Vieira é um espaço de arte contemporânea que ocupa um lugar de destaque na dinâmica cultural da cidade de Beja. Ao acolher parte do espólio do artista, que foi considerado como um dos escultores mais importantes do século XX, Beja presta uma justa homenagem ao homem que, desde cedo, estabeleceu uma forte relação afetiva com o Alentejo.
Com um percurso ímpar, a arte de Jorge Vieira assume-se como impactante, icónica e de rutura, distanciando-se do tradicional ao fundir-se com influências primitivistas, abstracionistas e surrealistas. Na base da sua obra está presente uma dualidade de referências onde coexistem processos criativos mais arcaicos que nos transportam para a magia do ancestral e uma criação mais atual e enigmática, à qual se agrega a imaginação livre.
Das criações do artista sobressaem inúmeros trabalhos sobre papel que se reportam a vários períodos. Na escultura, recorre à utilização de técnicas diferenciadas, num cuidadoso entrosamento entre o material, a mensagem que pretende transmitir e a restrição específica que cada obra exige. Na execução dos seus trabalhos o escultor recorreu a materiais como o bronze e a pedra.
No entanto, empenhou- -se particularmente, na utilização da terracota, destacando-a como material de eleição em que o retorno da escultura à produção artesanal explora a relação entre a mão e a matéria. Dos seus trabalhos evidencia-se o recurso a figuras e personagens cíclicas, onde predominam nus eróticos, casais de amantes, animais como o touro e o cavalo, ou figuras relacionadas com a mitologia pagã, de onde sobressaem, essencialmente, peças assentes em tripés e o absurdo de algumas associações anatómicas, onde a fantasia dá o mote à criação e cuja diversidade nos permite conhecer o imaginário do artista.
Com a reabertura temporária do museu neste novo espaço físico, pretende-se que o local que acolhe o monumento mais emblemático da cidade se transforme, simultaneamente, num ponto de encontro entre a fusão da arte moderna e a arquitetura medieval, onde será possível renovar conteúdos através de exposições temporárias, mas também, compreender, aprofundar e divulgar a vida e obra do escultor que tanto nos orgulha, alargando-a a públicos diversificados, através da partilha transversal a todas as gerações, formas de entender e sentir a arte. Marisa Saturnino